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domingo, 26 de dezembro de 2010

VISITA AO LIXÃO-26 DE DEZEMBRO DE 2010

Dia 26 de dezembro de 2010 dia do pós-Natal, um dia cheio de significados para aqueles que comemoram a festa cristã, mas no lixão de uma cidade do interior de Alagoas é apenas mais um dia qualquer. Homens, mulheres, crianças e idosos se misturam a paisagem miserável e desumana. Catando os restos de tudo aquilo que a cidade não quer mais. São camponeses sem terra, são operários desempregados, idosos e deficientes que a previdência não atende e famílias que o Bolsa Família não consegue suprir.

(Lixão de União dos Palmares-AL)
Escolhi este dia para sair com alguns amigos com a idéia de conhecer o Lixão de União dos Palmares e as centenas de pessoas que vivem do que catam neste local. Atividade fora do comum para o modelo de sociedade em que vivemos. Caminhamos quase 1 Km até chegarmos no local combinado. Nada de portões, cercas, muros ou demarcações para delimitar o espaço reservado para os dejetos, pois, parece que o lixão palmarino, que atende grande parte da região da zona da mata alagoana, foi planejado para se expandir e poluir tudo a sua volta. É fácil saber onde fica, porque existe um rastro de lixo e fedentina por toda a estrada de barro até chegar no “centro” do Lixão, uma vez que este não tem limites, o centro seria a parte que contem mais lixo que as outras partes.


(Lixão: Sem cerca e sem demarcação)

Encontrei um grupo de catadores, que se refugiavam do sol, numa espécie de cabana improvisada com pneus velhos e colchões usados. O grupo era formado por uma mulher, um adolescente e um menino. Apesar da desconfiança, em ver um cara 8 horas da manhã num domingo após o Natal caminhando com uma câmera pelo Lixão da cidade, fui conquistando a confiança do pequeno grupo aos poucos e a conversa foi se estendendo, a ponto de conhecer um pouco mais sobre este espaço onde parte da sociedade joga o que não a serve mais, e sobre estes que vivem justamente do que a outra já não quer mais. Não por capricho ou vontade, mas por necessidade de viver e não morrer de fome.

(Abrigo improvisado no meio do Lixão)

A senhora, que de certa forma liderava o grupo, apesar de não querer bater foto e não dizer seu nome, comentou que já faz dois anos que trabalhava ali. Falou que não era do quadro, nome dado para uma organização, ainda débil, dos catadores do Lixão, também disse que existe uma programação onde outros tantos que revezam durante a semana para trabalhar, e ela apenas vinha aos sábados e domingos. Aparentava estar incomodado com a minha presença, mas não me destratou em nenhum momento. Apontou o barraco onde o protótipo de associação guarda algumas botas, luvas e bonés, um barracão de lata caindo aos pedaços. 

(Barracão da "associação" dos catadores)

Perguntei se alguém catava alimentos para consumo próprio. Ela negou, disse que alguns iam lá para pegar sim, mas para dar aos porcos. Porém, há indícios que levam a crer que existem pessoas que comem restos de comida que são jogadas no Lixão.
O adolescente não falou muito, apenas um bom dia e nada mais. O menino era o mais entusiasmado, se mostrou bastante curioso e atento a nossas movimentações, sempre com um riso no rosto.

Há dois meses, quando a usina Laginha começou as queimadas em suas plantações de cana-de-açúcar, devido a falta de limitações do Lixão e o despreparo dos brigadistas da usina, o fogo começou a tomar conta das montanhas de lixo. Dentro destas montanhas existem produtos tóxicos, lixo hospitalar, dejetos químicos e orgânicos que reagem a todo instante as mudanças de temperatura. Deste então, até o exato momento, os catadores trabalham sobre uma intensa cortina de fumaça tóxica e o fogo queima dia e noite sem parar.


Paralelo a toda esta situação, perto do Lixão existe uma granja que joga todos os dias detritos no riacho do Macaco, que passa pelo Lixão.

Em apenas uma visita pude perceber vários abusos contra a dignidade humana, como a fome, a miséria, a exploração trabalhista, o trabalho infantil e as doenças. Mas, o estado não vê, não percebe e não resolve, porque não é da natureza deste sistema solucionar problemas sociais nem muito menos de se importar com as pessoas. O máximo que este sistema pode oferecer são Bolsas Esmolas, compra de votos e projetos subjetivos, que não resolvem nada definitivamente. Isso não é um problema de uma gestão especifica, de um governante em particular nem de um partideco eleitoreiro safado, mas sim de todo um sistema putrefato e atrasado que já não atende as necessidades do povo. Então, o povo é quem tem que destruí-lo e reconstruir outro justo e verdadeiramente democrático.


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