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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

JUVELINA NASCIMENTO, UM EXEMPLO DE MULHER NORDESTINA

Em 10 de maio de 1913, na cidade de Murici, Alagoas, nascia Juvelina das Dores do Nascimento, descendente de escravos e de uma família de negros da zona da mata alagoana. Sua vida foi marcada por uma busca constante de liberdade e dignidade para as mulheres, negras e pobres, e para todo o povo que era explorado pelos senhores do açúcar e do algodão daquela época.

Murici era uma cidade intermediária entre Maceió e União dos Palmares, a capital e uma cidade pólo alagoana. Ainda hoje, Murici tem essa característica, porém, ela não tem mais o poder nem a geografia das primeiras décadas do século XX, pois dela surgiram Messias, rumo a Maceió, e Branquinha, vizinha a União dos Palmares. A cidade foi palco de vários acontecimentos históricos, como as batalhas de quilombo dos palmares, a chacina das tribos indígenas pelos primeiros coronéis, os confrontos da “guerra dos carecas e cabeludos” luta entre monarcas e republicanos, e a resistência das mulheres que se organizaram para lutar contra a exploração dos senhores feudais. Neste último é onde se encaixa Juvelina Nascimento, uma das principais lideranças desta resistência.

Por Murici ser uma cidade estratégica para os assuntos políticos e econômicos no auge das culturas da cana e do algodão, lá costumavam se reunir os barões destas culturas entre banqueiros, donos de engenho, fazendeiros e políticos ordinários. Nestas reuniões, de nada tinham de negócios, se tinha era secundário, sabe-se que estes senhores mandavam seus capangas buscarem as meninas entre 12 e 20 anos de idade para as obrigarem a terem relações sexuais com os mesmos. Caso alguma família recusa-se enviar suas filhas, esta sofreria as duras punições dos senhores feudais muricienses, sendo que só as que fossem casadas não eram cobiçadas, mas também não era uma regra geral.

Percebendo esta triste realidade a qual as mulheres de Murici eram submetidas, Juvelina começou a imaginar formas de não ser submetida a estes abusos. A partir do dia em que sua irmã foi brutalmente arrastada pelos capachos dos coronéis, ao ver sua família se debulhando em lagrimas e um dos jagunços, num gesto de desprezo jogou algumas moedas como forma de ressarcir todo sofrimento que estava sendo realizado e o trauma do estupro de sua irmã, ela passou a se revoltar com tudo aquilo e agitar outras meninas a reagir contra aqueles abusos.

Casou-se aos 13 anos com um rapaz, que também era bem jovem, de uns 14 anos, como pretexto de se manter livre das investidas dos porcos latifundiários. Todas as meninas viam nesta atitude de Juvelina uma saída, e esta era casar-se o quanto antes. Esta movimentação foi intensa e em outro momento em que uma grande “reunião” se aproximava os jagunços saíram à procura de mais meninas, porém, a maioria delas estavam casadas ou comprometidas e isso causou desconfiança, logo não tardou em chegarem a Juvelina.

Juvelina era de família de camponeses e trabalhavam nas plantações de algodão da região. Foi obrigada a fugir com seu, recém casado, marido para outras fazendas. Mas a resistência continuou e em parte foi vitoriosa, pois não solucionou o problema de fato, mas marcou na história como uma luta pela dignidade da mulher, do negro, do pobre e do povo nordestino. Juvelina Nascimento viveu sem maiores reconhecimentos e teve uma morte caseira.

Apesar de não haver registros históricos “legítimos” sobre este acontecimento heróico, é uma das muitas histórias que o povo guarda e propaga aos mais novos, também é o povo que dá a veracidade necessária para legitimar este acontecimento. Ainda hoje existem descendentes de Juvelina em Murici e em outras cidades vizinhas, mas nunca houve pesquisas nem estudos sobre o assunto e muito menos sobre ela, apenas o reconhecimento da massa.

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